Salvador Dali
Na minha terra qualquer coisa que acontecia parecia surreal. Raramente alguma coisa saía do normal. Tudo estava na sesmaria do metafísico, e quase nada ia além da lida bruta. Quando alguém dizia que conheceu alguém fenomenal, a resposta normal era: vai conviver pra ver.
Sempre admirei Salvador Dali, e por isso eu quis ir a Figueres, pra conhecer e entender o gênio. Uma hora de Barcelona a Girona. Cidade histórica, que como Barcelona, ficou devendo. De lá mais uma hora até Figueres, extremo da Espanha, onde nasceu, morreu e está sepultado Salvador Dali. Ele nasceu em uma família normal, patriarcal. Nasceu um ano depois que seu irmão morreu. Herdou o nome, o vazio e o desafio de preencher a falta. Na enrascada de pegar por dois e viver por metade. Ficou marcado quando seus pais chegaram com um retrato pintado do irmão morto e Jesus crucificado. Viver com dois mortos no mesmo quarto foi devastador, afirmou ele.
Salvador sempre foi um sujeito perturbado por um pai prepotente. Fujiu da escola e de casa e a pintura foi sua rota de fuga. Foi salvo por uma mulher casada, 10 anos mais velha. A russa Elena Ivanova Diaconova ou Gala Éluard Dali, assim que conheceu Salvador Dali, abandonou o marido e a filha e foi morar com o pintor. Se tornou a musa inspiradora e também gostava de arte. Era arteira, teve uma meia dúzia de amantes. Formada em astes plásticas, foi incentivadora, orientadora, organizadora e gestora financeira. Gastava muita nas brincadeiras: só para o rockeiro Jeff Fenholt, ela deu uma casa de um milhão de dólares e vários quadros do Salvador Dali.
Salvador Dali dizia que pintava os sonhos. Ele era um sujeito muito interessado nos estudos de Freud. Tentou até encontrar pessoalmente o psiquiatra. O próprio Salvador Dali seria um ótimo campo de estudos para a psiquiatria. Pena que quando se encontram com Sigmund Freud, o próprio já estava em situação derradeira.
Figueres foi uma cidade redentora, maravilhosa. Até o almoço foi indescritível. O melhor que tivemos em todo o percurso. Mas a cidade natal do extraordinário pintor, é maravilhosa e foi muito agradável. O museu, a casa natal, a livraria Surrealista, o teatro e até a própria igreja. Até a estátua da Gala Éluard Dali me pareceu mais bonita e mais sexy que nas fotografias.
Pra fazer essa resenha eu pesquisei um pouco sobre a vida do Salvador Dali e descobri um sujeito, escroto, fascista e racista, mas era genial como pintor, na minha avaliação. Isso me criou uma nova complicação: Até então todos os racistas, fascistas e escrotos eram só isso mesmo.