O celular estragou o churrasco?
Entre carnes ao ponto, copos da moda e exigências de ocasião, esquecemos que o verdadeiro valor do churrasco está no momento, não no cardápio. Uma reflexão necessária sobre a gourmetização da vida.
Houve um tempo em que o churrasco era simples. Linguiça, maionese na travessa, uma picanha para impressionar, no máximo uma costela ou uma alcatra. Salada, arroz branco e, quando tinha sobremesa, um sagu que fechava a refeição com sabor de infância. Não precisava de mais nada.

O importante não estava no prato, mas na roda. A gente chegava cedo, ajudava a acender o fogo, ficava em volta da churrasqueira, conversando de verdade. Os papos eram produtivos, cheios de aprendizados, negócios, risadas. E a cerveja, simples, era servida no copo americano. Nada de frescura, mas muito conteúdo.
Hoje parece diferente. O convidado chega pedindo a senha do Wi-Fi antes do “boa noite”. Encosta o celular na mesa, exige carne ao ponto, ao ponto menos, bem passada. A bebida precisa estar na temperatura ideal, servida em copo Stanley. A sobremesa já não pode mais ser sagu, precisa ser um mousse elaborado, um pavê de três camadas ou alguma novidade da internet.
Não é errado querer qualidade. É bonito receber bem, oferecer o que há de melhor. Mas essa crítica é um convite a olhar para dentro. A pensar se, na busca pela perfeição, não estamos deixando escapar o essencial.
A gourmetização da comida virou reflexo da gourmetização da vida. Não basta viver, é preciso mostrar. Não basta saborear, é preciso postar. E, nesse processo, o que antes era simples e humano, agora corre o risco de se perder.
Essa lógica já não se limita ao churrasco. Ela está nas festas de aniversário em que o bolo vale mais do que a alegria da criança. Está nos casamentos onde a decoração brilha mais do que os olhares do casal. Está nas reuniões de amigos em que a foto publicada é mais importante do que a conversa real.
De que adianta a carne perfeita se a conversa é rasa? De que adianta uma sobremesa elaborada se falta tempo para rir junto? De que adianta o cenário de revista se ninguém está de verdade no momento? A vida não é sobre impressionar, é sobre compartilhar.
Eu sigo acreditando que o ser é maior do que o ter. Que o copo americano carrega mais memória do que qualquer taça da moda. Que a maionese de sempre e o sagu de domingo trazem mais valor do que qualquer receita importada. Porque o verdadeiro luxo nunca esteve na carne, no copo ou na sobremesa. O verdadeiro luxo está na presença.
O churrasco é só metáfora. Porque a vida também não precisa de rótulos nem de frescura. Precisa de verdade. Precisa de gente inteira.
E você, quando foi a última vez que viveu um encontro sem postar nada, apenas aproveitando o momento?
É ASSIM QUE EU PENSO.
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Por Junior Aurélio Vieira de Oliveira

Fonte: Opinião
Autor: Junior Aurélio Vieira de Oliveira
Crédito da imagem: Junior Vieira
Repórter: Junior Vieira