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Geral

O Câncer, Borges e a Imortalidade

Ficções, razões e fatalidades

O Câncer, Borges e a Imortalidade 


É preciso ficar atento e não se afogar em informações, e na confusão perder a imaginação. "O conhecimento é menos importante que a imaginação. O conhecimento é limitado. A imaginação cerca o mundo," disse Albert Einstein. Fiz esta citação para mostrar que não há nenhuma contradição no que eu vou falar. Sempre tem uns Sartreanos querendo sabotar os meus planos. A biblioteca da abadia não permitia mulheres. Pra remediar e não magoar Simone de Beouvoir eu vou  citar a Dona Silvia que conhece o Borges e é de Villa Angustura, cidade linda que eu conheço, e que me disse que eu deveria falar com o abade Michel,  também a Dona Rosa que trabalha lá desde então e me ajudou na tradução, para que eu conseguisse permissão para conhecer a biblioteca, que  fica na torre da abadia. Jorge Luis Borges é o bibliotecário da abadia desde o dia que o Umberto Eco foi morar lá para adaptar o livro para o cinema. Precisava desta ambientação. O Umberto Eco queria saber quem era a Rosa e qual era a do Nome da Rosa. Jorge Luis Borges era bibliotecário e também já tinha construído a Biblioteca de Babel. Falava francês e italiano e era um literato como o Umberto Eco. 


A abadia de Clervaux fica no norte de Luxemburgo. Jorge Luis Borges, cego, precisava de um parceiro para as caminhadas. Me escolheu porque poucos conhecem o Grão Ducado como eu. Além do mais sou fluente em portunhol. Conheço Buenos Aires e a Argentina e isso lhe convinha nesta ligação de ficção com realidade. Sobre a imortalidade, ele me disse que é uma dádiva de animais e pessoas... irracionais. É um mal ou uma maldição para o sujeito racional. Essa reflexão foi um puxão de orelha sobre as minhas preocupações sobre saúde e finitude. A assombração de ser vítima fatal de câncer foi sendo amenizadas nas caminhadas pelas trilhas no bosque do castelo de Colpach-Bas.


Colpach-Bas já foi uma cidade e hoje é uma vila com aproximadamente 100 pessoas. Em 1637 foi cercada e todos os homens foram enforcados. O castelo e o bosque de Colpach-Bas - dos mais lindos que já vi - foram doados a cruz vermelha internacional e transformado num centro de reabilitação de pessoas com câncer. O castelo está lá, parecendo um mausoléu de histórias salientes. Tem o particular cemitério arquitetônico, do casal Mayrisch, um lago com uma ilha e uma trilha com muitas obras de arte, além do circuito de instrumentos para exercícios. Uma coincidência sinistra é que uma das obras mais emblemáticas,  o Centauro Agonizante, que só tem a obra original lá em Colpach-Bas e o protótipo lá na praça da biblioteca nacional Argentina, onde Jorge Luis Borges foi diretor por quase 20 anos.


No outono do ano passado Ele me falou que eu deveria aproveitar quando passar em Astúrias, para me atualizar ou aprender a lidar com o câncer. Um organismo vivo com seu metabolismo, é uma espécie de socialismo, funciona num processo de cooperação de membros, órgãos e células. A doença é o câncer provocado por célula egoísta que degenera e começa se multiplicar e se alimentar de tudo que tem ao seu redor. Ao final vai migrar em busca de oxigênio e formar colônias em outros lugares, chamadas de tumores ou metástases. É um processo ancestral que desde os dinossauros vem matando plantas e animais. Jorge Luis Borges morreu de Câncer no fígado, em Genebra.


Isso é o que eu sei sobre câncer, pois é assim que explica Carlos López-Otin, cientista da universidade do principado de Astúrias. "Assombroso não é ter câncer, mas sim não ter" disse ele. Nesta replicância permanente só um componente de sorte, nos livra da morte. Esta façanha talvez se deva, porque essa célula egoísta não tenha sido contaminado pela ideologia capitalista e sua meritocracia. 


Sobre o câncer é isto, a síndrome do gene egoísta. Não sou cientista, mas sou capaz de apostar que não é o câncer que vai acabar com a humanidade, mas sim, vamos ser vítimas do egoísmo e da ganância. Borges o encontrei em Buenos Aires, no mês passado agoniado por ter caído na cilada, como os Mayrisch, de que sem descendentes, não há imortalidade, de verdade.


 

Fonte: pesquisa

Autor: Paulo Ademir Braun

Crédito da imagem: Paulo Ademir Braun

Repórter: Paulo Ademir Braun

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