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01/05/2025 06:28

Complexo de vira-lata



O mi-mi-mi da falta de pedigree

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Eu construí uma amizade, com uma pessoa, que eu só vi uma vez. Me fez uma sugestão e uma intimação, pelo fato de eu estar morando fora, deveria observar e lhe ajudar a combater o complexo de vira-lata. Um grande problema enraizado em nossa pátria, que não faz sentido e precisa ser combatido. 

Pra resumir, vira-lata é um cachorro sem pedigree. Resultado da mistura de raças. Essa também é a nossa melhor característica. O problema não é a mistura. O problema é o complexo. O vira-lata é versátil e resistente. Deveria ser a mascote da nossa gente. Nelson Rodrigues foi infeliz ao estigmatizar o nosso cão. Fazer a associação do complexo de inferioridade ao nosso cão, foi maldade. Complexo de vira-lata é uma expressão cunhada por Nelson Rodrigues, ao ter definido o brasileiro como um Narciso invertido, o sujeito que cospe na própria imagem. Usou a expressão, complexo de vira-lata, por ocasião da tragédia do maracanazo, que levou a aposentadoria da camisa branca, da seleção. Um símbolo de fracasso. Na poesia de Caetano: Narciso acha feio, tudo o que não é espelho. Vira-lata hoje é a discussão sobre o vermelho na seleção. Na minha opinião, o que deveria aposentar, é a camisa amarela. O vira-lata é a negação de pureza. Raça pura. Já vimos no que deu essa cachorrada.

O próprio vira-lata deveria ser o símbolo nacional. Um animal que é a caricatura da nossa formação. Precisamos divulgar o que é bom. Publicitário das nossas qualidades, porque na verdade o brasileiro é um bom marqueteiro das nossas desgraças, por onde passa. Foi contra isso que o meu amigo Elizandro Pellin se referia, quando dizia que precisamos mostrar o quanto grande é que somos. Um país sem igual. Uma espécie de carnaval, sem comparação. Uma grande nação.

Grandioso é pensar e argumentar como Eduardo Gianetti e Darci Ribeiro, mostrando que o povo brasileiro é um povo diferenciado. Um povo que não é cópia de ninguém. Um povo que criou-se da mistura de raças, de cultura. A nossa alta temperatura explodindo em paixão, tão invejada pelos gringos, vem deste caldeirão.

Eu já tinha morado em outros países e agora finalizei um período de 5 anos em Luxemburgo. Ao devolver o apartamento, o proprietário, Rafael Acunzo, que é italiano, mora na Bélgica e tem empreendimentos imobiliários em Luxemburgo, me disse que minha família mudou-lhe a visão que tinha dos brasileiros. Hoje ele tem vários inquilinos conterrâneos e sem nenhuma reclamação. Também disse que nós, os brasileiros, somos o seu público preferencial. 'O problema é que o Brasil é muito impopular no Brasil', disse N. Rodrigues, o mais afiado dramaturgo antropólogo brasileiro. Mostrou a vida como ela é. É impressionante como os brasileiros falam mal do SUS, um sistema admirado em todo mundo. Temos muitas coisas boas, no Brasil e invejada pelos gringos, mas nós nem damos conta de valorizar e aproveitar. Até parece que ninguém leu O Alquimista.

Os brasileiros vivem a distopia imaginária, que para mim tem paralelo com o nosso alto índice de religião ou crença. Vivemos num paraíso: Um país sem catástrofes, sem guerras. Terra, água, selva, mar... Quase tudo de bom que se possa imaginar, de forma natural, mas ficamos sonhando com paraísos distantes ou em outra vida.

Eu já fiz várias viagens de avião, com bem mais de uma quinzena de companhia. Na última, comprei as passagens pela Latam, que usou a parceria com a Luxair, com a qual nos estressamos na saída. A personificação da prepotência e arrogância impondo regras e tarifas aleatórias, com um cinismo enrustido de satisfação. Libertação só no avião da Latam. A tripulação brasileira, tem aquela ambientação de felicidade, sutileza e sensibilidade que contagia, e uma alegria que faz a gente criar asas. Incomparável com qualquer outra companhia. No final, em Curitiba, um motorista de aplicativo que embarca uma família e uma mudança, e de quebra, atualiza o futebol nacional, e o grenal da política. Tratamento diferenciado que só tem por aqui. Nossa gente é diferenciada assim como é o nosso cão. Mas continuamos tratando o Vira-lata com resto de comida e o poodle com ração.

 

 

 

 

 

 

 




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