Água
Transparente como água de vertente. Com a alma lavada e enxaguada, vou me dedicar a explanar sobre algo essencial. Ela é ou está em quase tudo na vida. Vida, só com água. A Água é um fenômeno. É uma maravilha, absolutamente estranha e alienígena. Quando pegar um copo de água para tomar, pare pra observar esse líquido fenomenal, sem o qual não se vive. A Água não tem cor, cheiro nem sabor. É condição de existência.
O planeta Terra é composto por 70% de água, como é o corpo humano também. A Água é um corpo só, que se conforma em qualquer ambiente. Se divide, se separa, se evapora. Se atraí, e se une infinitamente.
A Água existe a bilhões de anos, e não é deste planeta. Veio do espaço. Do infinito do universo e parou aqui. Ela também tem um comportamento muito esquisito. É de difícil compreensão da sua origem e formação. A água que está no meu corpo, neste momento, pode ter passado pelo corpo de Hepátia de Alexandria, Carlos Magno, Eva Perón, um tubarão, na Eliz Regina ou até mesmo pela Argentina, sem ter tido nenhuma alteração. Toda vez que eu tomo água eu penso que pode ter sido lágrimas de dor ou alegria, talvez suor de um corpo abrasador. Também me solidarizar, pois a água que passou por mim possa ter ajudado a chorar a dor das mães da praça de maio.
Água na formação da chuva é um fenômeno maravilhoso. No próximo verão eu vou sentar no chão e observar, só vou levantar quando a chuva passar. As moléculas de água conseguem flutuar para cima, contra a lei da gravidade. Esses dois gases nem deveriam ser líquidos. Água congelada se expande e flutua, na água. Água quente congela mais rápido que água normal. São algumas curiosidades que intrigam os pesquisadores.
Quem nunca foi pra amazônia, vai ter dificuldade de acreditar. Até a pouco tempo a amazônia era um lugar isolado, onde nem Deus havia pisado. O Amazonas parece mar, mas é um rio que surgiu alí, do acúmulo das lágrimas da deusa Jacy, a Lua. Jacy, uma deusa tupi guarani que ilumina a terra enquanto Guaracy, o Sol, dormia. No dia que se encontraram, se apaixonaram. Não puderam se casar, porque o Sol não poderia se aproximar. Eu tive a sorte de mergulhar naquelas águas e sentir a sensação de estar no berço das paixões.
Eu nasci logo ali, na esquina Boa Vista. O seu Odair Molon não me deixa mentir. Da nascente que eu bebi, ele pescou uma carpa de 58 quilos. A literatura pesqueira diz que é a maior, daquela espécie, já registada. Não costumo mentir mas vou insistir em demonstrar que tenho uma vida Severina invertida. Eu sempre navego rio a cima.
A poucos dias eu passei por Tordesilhas, Espanha, onde foi pactuado o tratado que dividia o novo mundo. Me dei conta aqui distante, do quanto isso é impactante aí pra nós. Esse tratado meteu uma linha de uma ponta a outra do planeta. Na esquerda os espanhóis, e nós do lado de cá. De todas as fronteiras do Brasil, com a Argentina é a mais importante. O Brasil só tem 13 quilômetros de fronteira seca, com a Argentina, e foi a última fronteira conflituosa, do Brasil. O presidente Cliveland teve que vir mediar a linha, a respeitar. Foi combinado que a divisa seguia o traçado que a água fazia. A divisa ficou na crista da colina, e minha sina Severina foi premiada com tantas nascentes. Vertente que vertente Água, pensa. Lamento não ser poeta pra mostrar com poesia, que as minhas paixões, tem ligações com aquelas vertentes da fronteira. Volta e meia a lua cheia alumia a minha nostalgia, por isso eu volto sempre, aliviar a minha sede daquelas vertentes.